Disciplina na Igreja

Publicado em 20 de março de 2010 – 12:10

por Solano Portela

Introdução

Nossas igrejas estão sempre tendo problemas relacionados à disciplina de membros. Se a igreja é fiel e bíblica ao disciplinar, há a necessidade de que todos os membros compreendam as bases bíblicas para tanto; se a igreja é falha, é necessário que todos se conscientizem das razões dadas pelas Escrituras para a aplicação da disciplina e dos perigos e conseqüências de negligenciá-la. Esse é, portanto, um tema sempre relevante. Não se trata de um caminho opcional para a administração da igreja, mas de uma trilha necessária, que deve ser entendida, acatada, apoiada e aplicada, para que tenhamos saúde espiritual em nosso meio.

O exercício da disciplina na igreja é algo tão importante que o reformador João Calvino a considerou, ao lado da proclamação da Palavra e da administração dos sacramentos, uma das marcas que distinguem a igreja verdadeira da falsa. Ou seja, na igreja falsa não somente está ausente a pregação das inspiradas Escrituras e os sacramentos são antibíblicos, ou incorretamente administrados, mas ela é negligente, também, na preservação de sua pureza moral e doutrinária. A igreja, às vezes, não segue os passos e objetivos de disciplina eclesiástica delineados na Palavra de Deus. Quando negligencia essa área, passa a abrir mão da identidade peculiar dos seus membros, perante o mundo. O resultado é que a autoridade na pregação e o testemunho do Evangelho ficam prejudicados.

Não queremos desenvolver um espírito de censura gratuita, no qual enxerguemos sempre o argueiro no olho do irmão antes da trave que está no nosso. Mas precisamos despertar um senso de comportamento bíblico que faça justiça ao nome de Cristo e que não envergonhe o Evangelho. Isso começa com o cuidado sobre a nossa própria vida e deve se estender pela nossa igreja local.

A disciplina, exercida com amor, pelas razões especificadas na Bíblia e com os objetivos que ela prescreve, deve ser exercida na esfera pessoal e apoiada e compreendida quando já estiver na esfera do Conselho da Igreja, ou de outras autoridades superiores.

Queremos examinar alguns textos bíblicos que se relacionam com a disciplina na igreja. Alguns outros tratam igualmente desse assunto, mas os que apresentaremos são fundamentais à nossa compreensão. Com o seu exame, oramos para que sejamos despertados ao apreço da pureza tanto do indivíduo como da igreja visível.

1. O perigo da falta de disciplina

Paulo, escrevendo à igreja da Corinto (1 Co 5.1-13), alerta para os perigosque sobrevêm quando se é negligente na aplicação da disciplina. Nesse trecho lemos:

Geralmente, se ouve que há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a possuir a mulher de seu próprio pai.

E, contudo, andais vós ensoberbecidos e não chegastes a lamentar, para que fosse tirado do vosso meio quem tamanho ultraje praticou? Eu, na verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente, que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor,entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus.

Não é boa a vossa jactância. Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado.

Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade. Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras; pois, neste caso, teríeis de sair do mundo.

Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais.

Pois com que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os de fora, porém, Deus os julgará. Expulsai, pois, de entre vós o malfeitor.

Notem, no trecho, os seguintes pontos que o Espírito Santo fez registrar para a nossa instrução:

a. O pecado na igreja entra em choque com o seu caráter santo, mas ele ocorre. Não é negando a realidade de sua existência que resolvemos o problema. No versículo 1, ele diz: “…há entre vós imoralidade e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios…”. Ou seja, o que estava ocorrendo naquela igreja chocaria até os descrentes, mesmo com sua visão dissoluta.

b. Muitos pecados atingem um estágio público e notório. Esse mesmo versículo 1 começa com as palavras: “Geralmente, se ouve que há entre vós…”. A questão não era privada, de mais fácil resolução e aconselhamento, mas já se espalhara, chegando até ao conhecimento de Paulo, que se encontrava distante.

c. Acomodação e orgulho. A falta de ação revelava acomodação da consciência individual e coletiva ao pecado, em forma de rebeldia e soberba. No versículo 2, Paulo se espanta que aqueles irmãos “… não chegaram a lamentar” toda aquela demonstração de vida em pecado. Paulo diz ainda que eles se achavam “ensoberbecidos”, ou seja, se orgulhavam da postura tomada em vez de estarem conscientes do mal que era causado ao testemunho do Evangelho. Ainda sobre a ausência de disciplina naquela igreja Paulo diz: “… não é boa a vossa jactância…” (v.6). Eles nada haviam feito, portanto, para “… tirar do meio” o que havia praticado aquilo que o próprio Paulo chama “ultraje” e “infâmia” (v.3). Quando a disciplina não é exercida, nossas consciências vão sendo cauterizadas e conformamo-nos ao modo de comportamento do mundo e, também, deixamos de nos chocar, de identificar o contraste com a forma de vida prescrita para o servo de Deus. Paulo ensina que a ação correta era a exclusão daquele membro (v. 5) – ele deveria ser “entregue a Satanás”, ou ser considerado como descrente, pois o seu modo de vida não testemunhava uma conversão verdadeira. Estaria, portanto, sob o domínio de Satanás. Essa constatação não era para ser feita individualmente, mas corporativamente, pela autoridade e no poder de Cristo. No versículo 4 ele escreve: “…em nome do Senhor Jesus, reunidos vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor…”.

d. O perigo especificado. Paulo diz (vs. 6 e 7): “…Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda? Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento.” A igreja era para ser “massa sem fermento” – pura. A admissão de um pouco de fermento, apenas, atingiria toda a massa. Ou seja, deixar que o comportamento incompatível com a fé cristã permaneça no seio da igreja, sem disciplina, significa pôr em risco a saúde espiritual de toda a comunidade.

e. As marcas da Igreja. Paulo ensina (v. 8) que a igreja deve ser conhecida pela “…sinceridade e verdade…” e não pelo “…fermento da maldade e da malícia”.

f. O esclarecimento quanto à associação. Paulo reconhece que o mundo é constituído de impuros. Ele diz que não está ensinando que a igreja deva se isolar do mundo. Existindo no mundo ela terá contato com “…avarentos, ou roubadores, ou idólatras…” (v.10). Mas ele reforça que não deve haver “associação com impuros” (v.9) e explica quem são esses a quem ele chama de impuros, no versículo 11 – é aquele que “…dizendo-se irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador…”. Ou seja, é aquele que professa a fé cristã, mas tem comportamento imoral (“impuro”); ou tem afeição descabida pelas suas próprias posses materiais (“avarento”); ou o que distorce a religião verdadeira por sua prática ou ensinamentos ( “idólatra”); ou o que tem o hábito de caluniar ou de espalhar boatos (“maldizente”); ou o que está sob o domínio de substâncias que impedem o comportamento racional (“beberrão”) – nas quais estão a bebida alcoólica e, certamente, as drogas –, em vez de sob o controle do Espírito Santo; e, finalmente, o que demonstra ganância e não respeita a propriedade alheia (“roubador”).

g. A rigidez da disciplina – A necessidade era a de se exercitar “julgamento interno” (v.12) contra o “malfeitor”, expulsando-o do seio da igreja (v. 13). Esse julgamento deveria ser evidente a todos e deveria ser sentido pelo disciplinado; isto é, ele deveria sentir que a comunhão fraterna havia sido atingida pelo seu pecado: “com esse tal, nem ainda comais”. Muitas vezes membros, com boas intenções, confundem o desejo legítimo de restauração do disciplinado com um apoio prejudicial ao mesmo. Não se limitam a indicar que estão em oração, mas colocam “panos quentes” na ação do Conselho. Muitas vezes os disciplinados são alvo de um aconchego e atenção após a disciplina que não somente minam a autoridade da igreja, mas são prejudiciais ao próprio disciplinado, que deixa de sentir os efeitos danosos da falta de comunhão que o seu pecado causou. A advertência de Paulo é dura, mas devemos orar a Deus por sabedoria para saber como aplicar essa exortação com respeito a membros disciplinados por pecados graves nas nossas igrejas, de tal forma que eles sintam que algo mudou e que a comunhão procedente do Espírito é restaurada mediante o arrependimento sincero e o testemunho verdadeiro de uma conversão real.

h. O objetivo final – Não podemos esquecer o objetivo final de Paulo com a disciplina, especificado no versículo 5: “…a fim de que o espírito seja salvo no Dia do Senhor Jesus.” O objetivo era a salvação daquela alma disciplinada. Essa deve ser também a nossa visão: consciência da necessidade da disciplina, percepção dos perigos da sua falta de aplicação, apoio à sua aplicação correta no caso de comportamento anticristão contumaz, oração e desejo de arrependimento pelo disciplinado.

2. A autodisciplina e o ensino de Jesus sobre os passos da disciplina na igreja

Jesus Cristo, em Mateus 18.15-22, nos deu, de uma forma bem detalhada e inteligível, os passos necessários para o exercício da disciplina corporativa (na igreja). Entretanto, antes que o pecado se concretize em ações contra alguém e antes que atinja um caráter público, a Palavra de Deus nos dá admoestações sobre o exercício da autodisciplina. A palavra grega traduzida como temperança ou autocontrole (egkratea – um dos aspectos do fruto do Espírito, em Gl 5.23) significa, apropriadamente, a disciplina exercida pela própria pessoa, quer pelo estabelecimento de limites próprios, que não devem ser ultrapassados, quer na avaliação dos próprios pensamentos e atitudes que, se concretizados, prejudicariam alguém e desagradariam a Deus. O livro de Provérbios nos fala sobre a importância de controlar nosso próprio espírito (16.32), nossa língua (17.27 – “reter as palavras”) e nossa ira (19.11 – “tardio em irar-se” na Versão Corrigida). Certamente o exercício coerente da autodisciplina, na vida dos membros da igreja, reduz a necessidade da disciplina eclesiástica.

O texto de Mateus 18.15-22, diz o seguinte:

Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano.

Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus.

Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.

Então, Pedro, aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.

Os passos ensinados pelo nosso Senhor Jesus Cristo, para aplicação em nossa vida comunitária, como membros da igreja visível, são esses:

Passo 1 – Contato individual, pessoa a pessoa. Em Mt 18.15, lemos: “Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão”. Não devemos esperar que a parte ofensora venha pedir perdão, quando pecar contra nós. Jesus nos ensina que nós, quando ofendidos, devemos tomar a iniciativa para ter uma conversa discreta e individual com o nosso ofensor. Essa admoestação, em si só, já é importante para o nosso crescimento em santificação. Abordar o ofensor vai contra o nosso orgulho, mas é uma atitude típica da humildade que Cristo requer de nós, como cristãos. Cristo não oferece garantias de que teremos sucesso, mas se o ofensor der ouvidos à nossa admoestação individual, ganharemos o irmão, no sentido em que o impediremos de cometer pecados mais sérios contra outros, bem como construiremos um relacionamento mais sólido, em Cristo, com aquele irmão ou irmã.

Passo 2 – Contato com dois ou três. O versículo 16 aprofunda o contato e o envolvimento corporativo no processo de disciplina. Ele deve ocorrer se o contato individual for infrutífero, se o irmão ou irmã não der ouvidos à abordagem prescrita anteriormente. O v. 16 diz: “Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça”. Quando é a hora certa de passar do passo 1 ao passo 2? Devemos pedir a Deus discernimento e sabedoria para ver quando não há mais progresso no contato individual e está caracterizado que a parte ofensora não “quer ouvir”. Nesse caso, a abordagem deve ser exercida com mais uma ou duas pessoas, como “testemunhas”. Serão testemunhas do problema ocorrido, ou testemunhas do contato que está sendo realizado? Creio que não são testemunhas do problema, pois se o fossem a questão já seria pública e não limitada às duas pessoas, como indica o v. 15. São pessoas que deverão testemunhar e participar do encaminhamento do processo de disciplina, da exortação, do aconselhamento, objetivando que o faltoso “ouça”. Não são testemunhas silentes. O verso fala do “depoimento” delas.

Passo 3 – Contato com a Igreja. O versículo 17 apresenta uma mudança enorme no encaminhamento da questão. O faltoso recusou a admoestação individual e a conjunta de dois ou três membros. Jesus, então, determina: “… se ele não os atender, dize-o à igreja…”. O “dizer à igreja”, em uma estrutura presbiteriana, equivale a relatar ao Conselho. Em uma estrutura congregacional, relatar à Assembléia. Em qualquer situação, o relato, agora, deve ser feito pelo primeiro irmão ou irmã e pela outra ou outras testemunhas, envolvidas no Passo 2. A continuidade da frase, neste mesmo versículo, mostra que o propósito de “dizer à igreja” continua sendo o da admoestação. Não é só uma questão de veicular notícias, mas a de visar a exortação do ofensor, que agora será feita “pela igreja”, ou pelos representantes constituídos e eleitos por ela. Infelizmente, muitos pecados públicos e já amplamente divulgados no seio da comunidade só são tratados a partir deste estágio. Muitas vezes aqueles mais próximos ao faltoso deixaram de aplicar os passos 1 e 2, ao primeiro sinal da ofensa. A igreja é, então, surpreendida com o pecado realizado, divulgado e comentado, restando aos oficiais apenas tomar o processo a partir deste passo. Humanamente falando, quem sabe pecados maiores não teriam sido evitados se a abordagem individual, prescrita por Jesus, tivesse sido realizada.

Passo 4 – Exclusão. No final do versículo 17 Jesus diz “…se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano”. A recusa no atendimento às admoestações, a atitude de arrogância e desafio às autoridades, retratada em 2 Pe 2.10-11 e Judas 7-8, devem levar o faltoso à exclusão da igreja visível. Ele (ou ela) deve ser considerado como um descrente (“gentio”) e deve ser cortado da comunhão pessoal da mesma forma como os coletores de impostos (“publicanos”) eram desprezados pelos judeus. Somente evidências de arrependimento e conversão real poderão restaurar essa comunhão cortada pela disciplina. Com essa exclusão vão-se também os privilégios de membro, como a participação na Santa Ceia, e os demais. Jesus demonstra a necessidade de respaldar essa drástica atitude na sua própria autoridade e na do Pai. Isso ele faz nos vs. 18-19, mostrando o seu acompanhamento e o do Pai, nas questões da igreja que envolvem a preservação de sua pureza. Ele fecha essas instruções com a promessa de sua presença na congregação do povo de Deus (v. 20). Essas são palavras de grande encorajamento para que a igreja não negligencie a aplicação do processo de disciplina em todos esses passos.

3. Outros textos e pontos importantes sobre a disciplina na igreja.

Necessitamos abordar outros pontos adicionais sobre a disciplina na igreja. Os textos seguintes mostram que a disciplina não se restringe apenas ao comportamento imoral ou que deva ser exercida somente contra aqueles que se desviam da prática correta da sexualidade:

a. A disciplina deve ser aplicada contra os que causam dissensão e divisão. Paulo, em Tito 2.15-3.11, diz o seguinte:

Dize estas coisas; exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te despreze.

Lembra-lhes que se sujeitem aos que governam, às autoridades; sejam obedientes, estejam prontos para toda boa obra, não difamem a ninguém; nem sejam altercadores, mas cordatos, dando provas de toda cortesia, para com todos os homens.

Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros.

Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.

Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens.

Evita discussões insensatas, genealogias, contendas e debates sobre a lei; porque não têm utilidade e são fúteis. Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada.

Paulo está exortando a Tito para que exerça sua autoridade, como líder da igreja, ensinando, exortando e repreendendo os membros da igreja para que não sejam difamadores e briguentos. Antes, devem ser obedientes, cordatos, corteses, não somente para com os crentes mas para com os descrentes também. Ele lembra a Tito e a nós que características condenáveis já fizeram parte da personalidade e do modo de vida de muitos de nós, antes da salvação, mas pela graça e misericórdia de Deus fomos regenerados pelo Espírito Santo e transformados para as boas obras. Devemos, portanto, evitar discussões fúteis e sobre assuntos secundários que não levam a lugar algum. A pessoa facciosa, que quer causar divisão, deve ser admoestada uma e duas vezes, mas depois disso deve ser evitada, ou seja, excluída, por recusar as advertências e por preferir viver em pecado.

b. Os que ensinam doutrinas falsas, bem como os que as praticam, devem ser disciplinados. Novamente, Paulo, em Ro 16.17-20, ensina que a igreja deve afastar os que causam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina por ele ensinada. O texto diz:

Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles, porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos.

Pois a vossa obediência é conhecida por todos; por isso, me alegro a vosso respeito; e quero que sejais sábios para o bem e símplices para o mal.

E o Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás. A graça de nosso Senhor Jesus seja convosco.

Paulo especifica o perigo existente nas palavras daqueles que procuram os seus próprios interesses, mas falam suavemente, com palavras de elogio, enganando o coração dos incautos.

No livro de Apocalipse, 2.12-16, João registra as palavras de Cristo, advertindo a Igreja de Pérgamo, e a todas as nossas igrejas (2.17), contra aqueles que procuram incitar o povo de Deus a práticas contraditórias à fé cristã. Ali lemos:

Ao anjo da igreja em Pérgamo escreve: Estas coisas diz aquele que tem a espada afiada de dois gumes:

Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita.

Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava a Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição.

Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas.

Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca.

A menção à doutrina de Balaão, no v. 14, identifica o ensinamento dos que possuem motivos pessoais, rasteiros, aqueles que, mesmo com linguajar que aparenta honrar a Deus, não estão preocupados com a santificação da igreja, mas se empenham em destruir as linhas demarcatórias de comportamento que identificam o povo de Deus e os distinguem do mundo (“comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem a prostituição”). A doutrina dos nicolaítas é igualmente condenada (v. 15). Essa é também uma referência aos que advogavam uma vida dissoluta e imoral no seio da igreja. Na carta anterior (à igreja de Éfeso), as obras dos nicolaítas foram condenadas. Agora a menção é contra a sua doutrina. Notem que a condenação e a chamada ao arrependimento vêm para toda a igreja (vv. 14 e 16), por não exercer a disciplina e por conservar tais pessoas em seu meio.

c. A disciplina deve ser exercida com precaução e deve ser divulgada. Em 1 Tm 5.19-22, temos o ensinamento de que as denúncias devem ser substanciadas, não aceitas levianamente:

Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas.

Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam.

Conjuro-te, perante Deus, e Cristo Jesus, e os anjos eleitos, que guardes estes conselhos, sem prevenção, nada fazendo com parcialidade.

A ninguém imponhas precipitadamente as mãos. Não te tornes cúmplice de pecados de outrem. Conserva-te a ti mesmo puro.

Cautela é prescrita especificamente para as denúncias contra os oficiais (v. 19 – “duas ou três testemunhas”), mas o princípio de que deve haver substância e provas, nas denúncias, é genérico. O outro ensino deste trecho é que a disciplina dos que “vivem no pecado” (v. 20) se exerça “na presença de todos”. Isso significa que ela não deve ser alvo de uma resolução velada. Paulo dá uma razão para isso – “para que também os demais temam”. A disciplina tem essa característica didática de proclamar e provocar o temor do Senhor, livrando membros do pecado para uma vida em santidade e conformidade com a pureza de Cristo.

d. O objetivo final da disciplina é o arrependimento do disciplinado.

Dois textos nos falam a esse respeito. O primeiro é 2 Ts 3.6-15:

Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes;

pois vós mesmos estais cientes do modo por que vos convém imitar-nos, visto que nunca nos portamos desordenadamente entre vós, nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós; não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes.

Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma. Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia. A elas, porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranqüilamente, comam o seu próprio pão.

E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem. Caso alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado. Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão.

Paulo enfatiza a necessidade do afastamento de “qualquer irmão que ande desordenadamente”, contrário aos ensinamentos que recebeu (v. 6). O exemplo dado por Paulo é para aqueles que se acomodam no ócio, tornam-se um peso para os outros e passam a ocupar o tempo “intrometendo-se na vida alheia” (v.11). Esses, e aqueles que “não prestarem obediência” à palavra dada por Paulo, na sua carta, devem ser disciplinados (v. 14). Paulo indica que não deve haver “associação” com o faltoso e dá uma razão para tal: “para que fique envergonhado”, ou seja, para que se conscientize de sua falha e, sob humilhação perante a disciplina exercida pela igreja, se arrependa. Esse texto é encerrado com as seguintes palavras de cautela (v. 15): “Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão”.

O segundo texto é 2 Tm 2.22-26:

Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor. E repele as questões insensatas e absurdas, pois sabes que só engendram contendas.

Ora, é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e sim deve ser brando para com todos, apto para instruir, paciente, disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade.

Nesse texto Paulo volta a reforçar que o cristão deve caracterizar-se por seguir “a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor” (v. 22). Nesse sentido as “questões insensatas e absurdas” devem ser não somente evitadas como repelidas, quando introduzidas no seio da igreja (v. 23), pois só geram contendas. Contenda não deve fazer parte da postura do servo de Deus. Este deve ser brando e capaz de ensinar com paciência (v. 24). A disciplina deve ser exercida em mansidão (v. 25), com o objetivo de que Deus conceda aos disciplinados “não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade, mas também o retorno à sensatez, livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade” (v. 26).

Conclusão

Vivemos em uma era sem restrições e sem limites. Por isso, talvez, a questão da disciplina na igreja seja tão incompreendida e até negligenciada. Muitos questionam a legitimidade da sua aplicação – “com que direito?” Outros se revoltam quando a recebem. É preciso que saibamos que o direito e a autoridade da disciplina procedem do Senhor da igreja, que a comanda. É preciso que nossos olhos sejam abertos para que verifiquemos que a rejeição da disciplina é um grande mal. A recusa de sua aceitação ou a revolta por ela significam agir contra o objetivo maior, que é o reconhecimento do pecado, o arrependimento sincero e a restauração à plena comunhão da igreja visível.

Examinamos textos bíblicos que falam claramente sobre a necessidade de preservarmos nossa vida em sintonia com as diretrizes de Deus, em santificação e pureza, contribuindo para a edificação do corpo de Cristo. Esses mesmos textos especificam a necessidade da disciplina, que vai desde a autodisciplina, continuando com a admoestação individual e chegando até a exclusão, se necessário. O testemunho da igreja demanda fidelidade às diretrizes bíblicas, nesse sentido. Num mundo sem regras, Deus, em sua misericórdia, coloca a sua igreja como baluarte para que os seus padrões sejam reforçados e seguidos. Supliquemos a Deus que nos preserve em pureza, na plena comunhão de sua igreja e que compreendamos e defendamos o exercício da disciplina, quando necessária.

Nota do autor: Para leitura adicional, vide: “Disciplina na Igreja”, por Valdeci da Silva Santos, revista Fides Reformata, Vol. III, No. 1, página 149.

(Publicado em O Presbiteriano Conservador nas edições de Julho/Agosto e Setembro/Outubro de 2000)

A VERDADE SOBRE O CARNAVAL

CARNAVAL - ORIGEM E NATUREZA

Os que defendem o carnaval, costumam afirmar que ele é a alegria do povo, uma festa que expressa a cultura popular, uma festa folclórica. Ainda afirmam que o carnaval é a ocasião certa para atrair turistas estrangeiros a fim de angariar fundos para os cofres públicos. Neste estudo, no entanto, tentaremos mostrar, ainda que de forma objetiva, a realidade do que vem a ser esta festa e suas implicações para as nossas vidas. A Palavra carnaval vem de carnevale, vocábulo latim, que significa “adeus à carne”, entendido também como uma festa de muita alegria, folia e orgia que precede à quarta-feira de cinzas. No entanto, a comemoração do carnaval é de origem pagã e não cristã. Desde tempos imemoriais no Egito antigo, no outono, realizava-se a festa do boi Apís que era considerado um animal sagrado. E nestas festas, escolhia-se o boi mais belo e branco o qual era pintado com várias cores, hieróglifos e sinais cabalísticos. Em seguida o boi era conduzido pelas ruas, e levado até o Rio Nilo, onde era afogado. Para este ritual o povo fazia procissão juntamente com os sacerdotes, magistrados, homens, mulheres e crianças, fantasiadas grotescamente, dançando, cantando, em promiscuidade até seu afogamento. Com as conquistas da Grécia e de Roma, a festa foi transportada para outros países, sob outras formas e denominações. Na Grécia, tomou o nome de Dionisíaca em honra ao Deus do vinho que era considerado Dionísio e em Roma, era festejada como Bacanal em homenagem ao deus do vinho, Baco. Nessas comemorações, os tribunais e estabelecimentos oficiais se fechavam, e se abriam todos os lugares de divertimentos, onde a devassidão, a orgia e os prazeres sensuais eram inomináveis.
Com o advento do cristianismo, as festas pagãs se arrefeceram, mas na Idade Média, sob a tolerância da Igreja dominante, recrudescera entre os povos de educação latina sob a única denominação de carnaval. No Brasil, o carnaval empolga multidões e é motivo de atração turística. Como em todos os tempos e lugares, no Brasil a festa é portadora de nefastas conseqüências ao indivíduo, à família, à sociedade. O carnaval é festa religiosa, renascimento do paganismo antigo, dedicado a Momo - deus da zombaria, do sarcasmo, ). O Salmo 115:1-8 afirma que quem adora um deus morto se torna espiritualmente semelhante a ele. Momo é deus morto, cuja falsa duração é de três dias, cultuado pelos foliões, Pelo exposto, carnaval é festa religiosa que se contrapõe ao cristianismo verdadeiro.
Duas perspectivas bíblicas sobre o carnaval.

A primeira é, o carnaval não é uma simplesmente uma festa alegre e inofensiva, mas pelo contrário, é uma festa que tem patrocinado a tristeza e a desgraça de muitos lares.E nestas ocasiões que muitas jovens perdem a virgindade e se tornam mães solteiras, muitos jovens são iniciados no mundo das drogas, muitos casamentos são destruídos, doenças como a Aids encontra a oportunidade de proliferarem e que muitos morrem por diversos motivos.

A segunda perspectiva é, o espírito do carnaval não deve influenciar o verdadeiro cristão, pois este é satânico e, na verdade, um culto a Satanás. O carnaval que significa reúne todos os elementos de um culto satânico, orgias, bebedeiras, drogas, foliões devotos a ídolos do espiritismo, erotismo, possessões, enfim, tudo que o diabo gosta. É o momento que todos devem se mobilizar em oração haja vista ser nesta ocasião que Satanás mais age nas nossas cidades. Se orarmos, Deus pode impedir que os cofres públicos financiem estas festas pagãs para que, sem recursos, elas deixem de existir.

Jesus antes de sua quaresma, vinha do batismo, um ato de consagração a Deus e não de orgia bacanal. Por isso que na sua quaresma ele foi tentado, mas na quaresma destes carnavalescos o Diabo ao invés de tentá-los, vai é agradecê-los por terem dado suas vidas a Satanás no Carnaval.

Que Tristeza!!!

Rio de Janeiro 12/02 - 16:26 Eduardo Paes entrega a chave do Rio ao Rei Momo Prefeito da Cidade Maravilhosa declara a abertura do carnaval iG Rio de Janeiro

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, declarou no final da manhã desta sexta-feira a abertura oficial do carnaval carioca. Em cerimônia realizada no Palácio da Cidade, em Botafogo, zona sul do Rio, Paes entregou a chave do município ao Rei Momo Milton Júnior. Segundo a tradição, de hoje até a quarta-feira de cinzas, o comando da cidade ficará por conta da majestade da folia.

J.P. Engelbrecht

Prefeito do Rio, Eduardo Paes, entrega a chave da Cidade Maravilhosa ao Rei Momo

A cerimônia contou com a presença da rainha do carnaval, Shayene Cesário, das princesas Suellen Ferreira Pinto e Talita Del Castilhos, e de integrantes da Confraria do Garoto, da Banda da Guarda Municipal e da bateria da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro.

“O carnaval aqui é um sucesso, um show absoluto, não tem coisa mais fantástica. É uma honra e um prazer poder entregar a chave para o Rei Momo, que é o símbolo de alegria e da energia do carioca, e poder deixá-lo comandar o Rio até a próxima semana”, afirmou Eduardo Paes.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

POLICARPO UM HOMEM DE VALOR

O dia estava quente. As autoridades de Esmirna procuravam Policarpo, o respeitado bispo da cidade. Elas já haviam levado outros cristãos à morte na arena. Agora, uma multidão exigia a morte do líder.
Policarpo saíra da cidade e se escondera na propriedade de alguns amigos, no interior. Quando os soldados entraram, ele fugiu para outra propriedade. Embora o idoso bispo não tivesse medo da morte e quisesse permanecer na cidade, seus amigos insistiram em que se escondesse, talvez com temor de que sua morte pudesse desmoralizar a igreja. Se esse era o caso, estavam completamente equivocados.
Quando os soldados alcançaram a primeira fazenda, torturaram um menino escravo para que revelasse o paradeiro de Policarpo. Assim, apressaram-se, bem armados, para prender o bispo. Embora tivesse tempo para escapar, Policarpo se recusou a agir assim. "Que a vontade de Deus seja feita", decidiu. Em vez de fugir, deu as boas-vindas aos seus captores, ofereceu-lhes comida e pediu permissão para passar um momento sozinho em oração. Policarpo orou durante duas horas.
Alguns dos que ali estavam com a finalidade de prendê-lo pareciam arrependidos por prender um homem tão simpático. No caminho de volta a Esmirna, o chefe da guarda tentou argumentar com Policarpo: "Que problema há em dizer 'César é senhor' e acender incenso?".
Policarpo calmamente disse que não faria isso.
As autoridades romanas desenvolveram a idéia de que o espírito (ou o "gênio") do imperador (César) era divino. A maioria dos romanos, por causa de seu panteão, não tinha problema em prestar culto ao imperador, pois entendia a situação como questão de lealdade nacional. Porém, os cristãos sabiam que isso era idolatria.
Pelo fato de os cristãos se recusarem a adorar o imperador ou os outros deuses de Roma e adorar Cristo de maneira silenciosa e secreta em seus lares, a maioria das pessoas achava que eles não tinham fé. "Fora com os ateus!", gritavam os habitantes de Esmirna, enquanto buscavam os cristãos para prendê-los. Como sabiam apenas que os cristãos não participavam dos muitos festivais pagaos e não ofereciam os sacrifícios comuns, a multidão atacava o grupo considerado ímpio e sem pátria.
Então, Policarpo entrou em uma arena cheia de pessoas enfurecidas. O procónsul romano parecia respeitar a idade do bispo. Como Pilatos, queria evitar uma cena horrível, se fosse possível. Se Policarpo apenas oferecesse um sacrifício, todos poderiam ir para casa.
— Respeito sua idade, velho homem — implorou o procónsul.
— Jure pela felicidade de César. Mude de idéia. Diga "Fora com os ateus!".
O procónsul obviamente queria que Policarpo salvasse a vida ao separar-se daqueles "ateus", os cristãos. Ele, porém, simplesmente olhou para a multidão zombadora, levantou a mão na direção deles e disse:
— Fora com os ateus!
O procónsul tentou outra vez:
— Faça o juramento e eu o libertarei. Amaldiçoe Cristo!
O bispo se manteve firme.
— Por 86 anos servi a Cristo, e ele nunca me fez qualquer mal. Como poderia blasfemar contra meu Rei, que me salvou?
A tradição diz que Policarpo estudou com o apóstolo João. Se isso foi realmente verdade, ele era, provavelmente, o último elo vivo com a igreja apostólica. Cerca de quarenta anos antes, quando Policarpo começou seu ministério como bispo, Inácio, um dos pais da igreja, escreveu a ele uma carta especial. Policarpo escreveu, de próprio punho, uma carta aos filipenses. Embora não seja especialmente brilhante e original, essa carta fala sobre as verdades que ele aprendeu com seus mestres. Policarpo não fazia exegese de textos do Antigo Testamento, como os estudiosos cristãos posteriores, mas citava os apóstolos e os outros líderes da igreja para exortar os filipenses.
Cerca de um ano antes do martírio, Policarpo foi a Roma para acertar algumas diferenças quanto à data da Páscoa com o bispo daquela cidade. Uma história diz que, nessa cidade, ele debateu com o herege Mar-cião, a quem chamava "o primogênito de Satanás". Diz-se que diversos seguidores de Marcião se converteram com sua exposição dos ensinamentos apostólicos.
Este era o papel de Policarpo: ser uma testemunha fiel. Líderes posteriores apresentariam saídas criativas diante de situações em constante mutação, mas a era de Policarpo requeria apenas fidelidade. Ε ele foi fiel até a morte.
Na arena, a argumentação continuava entre o bispo e o procónsul. Em certo momento, Policarpo admoestou seu inquisidor: "Se você [...] finge que não sabe quem sou, ouça bem: sou um cristão. Se você quer aprender sobre o cristianismo, separe um dia e me conceda uma audiência". O procónsul ameaçou jogá-lo às feras.
Policarpo disse: "Pois chame-as. Se isto fosse uma mudança do mal para o bem, eu a consideraria, mas não posso admitir uma mudança do melhor para o pior".
Ameaçado pelo fogo, Policarpo reagiu: "Seu fogo poderá queimar por uma hora, mas depois se extinguirá; mas o fogo do julgamento por vir é eterno".
Por fim, anunciou-se que Policarpo não se retrataria. O povo de Es-mirna gritou: "Este é o mestre da Ásia, o pai dos cristãos, o destruidor de nossos deuses, que ensina o povo a não sacrificar e a não adorar!".
O procónsul ordenou que o bispo fosse queimado.
Policarpo foi amarrado a uma estaca, e o fogo foi ateado. Contudo, de acordo com testemunhas oculares, seu corpo não se consumia. Conforme o relato dessas testemunhas, ele "estava lá no meio, não como carne em chamas, mas como um pão sendo assado ou como o ouro e a prata sendo refinados em uma fornalha. Sentimos o suave aroma, semelhante ao de incenso, ou ao de outra especiaria preciosa".
Quando um dos executores o perfurou com uma lança, o sangue que jorrou apagou o fogo.
Este relato foi repassado às congregações por todo o império. A igreja valorizou esses relatos e começou a celebrar a vida e a morte de seus mártires, chegando a coletar seus ossos e outras relíquias. Em 23 de fevereiro, todos os anos, comemoravam o "dia do nascimento" de Policarpo no Reino celestial.
Nos 150 anos seguintes, à medida que centenas de outros mártires caminharam fielmente para a morte, muitos foram fortalecidos pelos relatos do testemunho fiel do bispo de Esmirna.

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